segunda-feira, 12 de maio de 2014

Saudade





 Adorava quando minha avó fazia  pétalas de rosas estalar nas nossas testas. Me lembro quando nos mostrava orgulhosa o ovo quente que a galinha acabava de botar. Foi ela que me ensinou que a verdadeira finalidade de panfletos publicitários era virarem bandeirinhas. Sua cozinha vivia cheia de saquinhos de leite vazios que ela juntava pra plantar suas mais diversas mudinhas, dentre as quais sua favorita: o flamboyant, por ter braços longos que nos acolhem.  
Foi minha avó que me ensinou a atravessar pinguelas. Seguida de meia dúzia de netos, nos guiava a passar por meia dúzia de pinguelas para chegar ao sítio vizinho. Era uma aventura. Tinha pinguela que era apenas um pedaço de tábua sobre a lama para que os pés não se sujassem. Tinha aquelas que atravessavam pequenos buracos mas eram curtas e fáceis de se transpor. Mas tinha uma que sempre me botava medo. Na minha visão de criança, era como se tivesse que atravessar um abismo se equilibrando em um tronco roliço. Não podíamos olhar pra traz, tínhamos que seguir em frente, um passo na frente do outro. E chegar ao fim do percurso era uma vitória. A última pinguela pela qual ela teve que atravessar foi a mais difícil. Era preciso que a guiássemos e cuidássemos para que a travessia fosse o mais tranquila possível, assim como ela fazia quando éramos crianças. 
Sempre achei que minha avó fosse meio dura, não gostava de beijos e abraços. Mas como não se sentir beijada pelas pétalas de todas as flores ao lembrar de suas rosas?  Como  olhar um flamboyant e não sentir o seu abraço acolhedor? A ela o meu profundo agradecimento por cada pinguela e cada flor!






 Pra quem não sabe, moro em Sorocaba e minha mãe mora a 450km de distância ( sim, a gente trabalha em locais separados!).  E não estava nos meus planos ir até Franca nesse dia das mães visitá-la. É muito longe, difícil ir em um dia pra voltar em outro, e, eu minha mãe somos muito próximas sempre. Eu não tinha me dado conta de que esse era um dia das mães diferente, o primeiro sem minha querida avó, o primeiro dela sem a mãe. Claro que fui dar um abraço apertado e compartilhar a saudade que fica acentuada nessas datas especiais, levei uma boneca e ganhei outra, nossa forma de demonstrar nosso afeto!

4 comentários:

  1. Olá Carol!!! Que post afetuoso!! Também lido diariamente com a saudade da minha mãe, agora que moro longe. Estou há 600 km de SP onde minha mama mora, então infelizmente tb não posso ir lá sempre. Já faz um tempo que não a vejo pessoalmente, com direito a abraço e conversa fiada. Nos vemos pelo Skype mas não eh a mesma coisa né? Sinto saudade da comidinha dela, de passar lá depois de pegar a cria na escola - coisa que eu fazia sempre... Agora sinto somente saudade...
    Um beijo pra vc, outro pra mama super talentosa!
    Ahhhh, a boneca eh linda, divina, maravilhosa, como tudo que nasce no ateliê de vocês! = )

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    1. Nossa, você ainda está mais longe do que eu e colo de mãe faz falta não é? Principalmente quando temos o privilégio de ter uma relação com a mãe de muito amor e afinidades. Obrigada pelo carinho de sempre,é muito bom ler seus comentários cheios de afeto! :)

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    2. Carol, carinho e colinho de mãe fazem falta sempre né? Minha mãe tb eh arteira, faz de tudo um pouco. Ri de qualquer coisa, tem alto astral. Sinto falta disso no meu dia a dia... mas quem sabe um dia desses nossa distância não fica mais curta né? ; )
      Eu adoro seu cantinho, pra mim eh uma alegria vir aqui sempre!
      Boa semana pra nós!

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    3. Eu é que adoro receber sua visita, sempre muito bem vinda! E enquanto a distância não fica mais curta a gente se une fazendo o que gosta!!!! bj :)

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